22/02/09

Wrestlers, Traumatizados e Cegos

Já fazia um tempo que não vinha vomitar as minhas opiniões sobre filmes por estes lados (sim, vomito-as moderadamente por outros lados, visto que até tenho um circulo de amiguinhos que se mostram interessados pelo tema), e como esta noite é dedicada à coisa com a cerimónia dos óscares agendada para a uma (ou uma e meia, não tenho a certeza), só me resta vir reportar o que se acumulou de filmes vistos nas últimas semanas, uns recentes, outros nem tanto, mas definitivamente com alguns que merecem destaque.

Seguindo uma ordem mais ou menos cronológica de visualizações, atiro-me já para o "The Wrestler". O interesse acho que foi sasonal, estava numa altura particularmente dedicada a apreciar histórias pouco complexas mas tocantes, daí ter surgido também o "Reign Over Me" do qual falarei em seguida. Apesar de algum cepticismo, o wrestler que luta mais por uma vida decente do que no ringue provou ter valor. Ultrapassado pela idade e com dificuldades em manter as finanças estáveis, Randy 'The Ram' Robinson vê-se dividido entre as licras de combate e as batas do super-mercado onde trabalha, juntamente com a filha que o odeia, e a procura pela aceitação de uma companheira amorosa. Não quebra nenhuns standards no que toca ao enredo, nem tecnicamente, transpondo-se para o ecrã com a típica filmagem semi-documentário que, no fim de contas, acrescenta um certo impacto neste tipo de filme. Salienta-se a performance de Mickey Rourke como personagem principal, que honestamente me parece ter sido "empurrada" pelo par de lágrimas que solta a certa altura, não deixando por isso de ser positivamente destacável.

No seguimento deste, como já falei, há outra pérola de filme que me foi sugerido pela semelhança no género.
"Reign Over Me" chamou um pouco do meu cepticismo quando vi Adam Sandler, actor predominante nos campos da comédia, a desempenhar um papel sério. Incrível, no entanto, como conseguiu quase na perfeição. Alan Johnson, dentista de sucesso encontra um antigo colega dos tempos de universidade, que por algum motivo não o reconhece, deixando no entanto que se aproxime. Isto coincide com a altura em que a suposta vida estável de Alan está a dar sinais de ruptura, o que o leva a refugiar-se numa tentativa de resolver os problemas de Charlie Fineman.
É outro caso de um enredo relativamente simples, mas tratado de forma a resultar muito bem, e Adam Sandler consegue-lhe dar um toque tão único e autêntico que uma vez o filme visto, não consigo ver Fineman interpretado por mais ninguém.
"Reign Over Me" data de 2007, mas apesar de tardia foi uma descoberta que valeu a pena.

Mais recentes, vi também "City Of Ember", "The Day The Earth Stood Still", "Madagascar: Escape 2 Africa" e "Blindness". Pela saúde do comprimento deste post, só me vou debruçar sobre os dois últimos títulos. Não que os primeiros sejam maus filmes, no caso de "City Of Ember" foi sim uma desilusão muito grande, trata-se de material que foi levado por um caminho destinado ao público menor, acabando desinteressante e focado em aspectos que divergem um pouco de uma temática cheia de potencial.
Quanto a "The Day The Earth Stood Still", é interessante de se ver e posso até dizer que a reinterpretação de Gort, o gigante que dispara um lazer da sua faixa ocular, deixou-me mesmo desconfortável, mas fora isso não há muito mais a apontar.

Passando então a Madagascar, apanhei-me um bocado surpreso quando me vi envolvido no espírito da coisa. O primeiro não foi nada que justificasse um segundo título, mas à parte de um humor que apesar de interessante, fica um pouco descabido na abordagem mais sentimental de Escape 2 Africa, parecem ter re-pensado o conceito e inovaram um pouco. Ainda que não tenha atingido o nível supremo de clássicos como "Rei Leão" (apesar de haver semelhanças) ou recentes obras como WALL.E, consegue por-se bastante a cima do primeiro e manter-se interessante do principio ao fim.

Fazendo uma viragem brusca de animação para a escuridão de "Blindness", é uma pena que tanta gente tenha falhado em perceber o objectivo na obra de Saramago, adaptada pelo realizador Meirelles. Creio que a divulgação com um aspecto mainstream e Americanizada de "Blindness" criou expectativas não correspondidas. A verdade é que se enquadra no género de "cinema estrangeiro", e chego-lhe mesmo a atribuir um tom de alternativo.

Uma espécie de epidemia começa a provocar cegueira em massa, deixando a personagem interpretada por Julianne Moore sozinha com o dom da visão, mas encarcerada em quarentena com o seu marido, também ele cego, recusando-se a abandona-lo. Não sendo isto o fulcral do romance, não são explicados motivos e origens da patologia mas sim os acontecimentos resultantes da mesma, acabando um grupo de gente a viver quase abandonada numas instalações vedadas, obrigando-se pela força das circunstancias a sobreviver da maneira mais primária e animalesca.
A visão decadente de instalações sem condições, mortes, e a certo ponto mulheres trocadas por comida, não podia ter sido entregue a melhores mãos senão a quem esteve por trás de "Cidade de Deus".

E pronto, tendo isto levado algum tempo a escrever falta apenas uma hora para que se saibam os galardoados com os homenzinhos dourados. Se me permitem vou-me sentar no sofá a aguardar o início da cerimónia, enquanto me arrependo de ainda não ter visto a maioria das películas nomeadas. Mas uma coisa também é certa, enquanto WALL.E levar o prémio destinado à sua categoria de filme animado, não há preocupações de maior.

1 comentário:

Carla Rodrigues disse...

Estou com curiosidade para ver o Wrestler... O reign over me não conhecia, se calhar ouvi falar de passagem e desinteressei-me automaticamente por ter o Adam Sandler... não vou lá muito com a cara do homem nem com as comédias que faz, se bem que um trabalho que ele tem agora no forno, Funny People, me está a deixar curiosa; primeiro por ser de Judd Apatow, segundo porque o Sandler está acompanhado pelo meu Seth Rogen de quem tanto gosto :D Mas ainda vou ver se dou uma vista de olhos a esse Reign Over Me.

O Day the Earth stood still não cheguei a ver porque me disseram que era muuuito mau. Mas quem sabe não arranjo maneira de o ver agora, sem ter tido de cuspir 5 euros no cinema em dezembro lol

É sempre bom ir lendo os vómitos cinematográficos do pessoal, continua a pô-los por aqui!